VIAGENS / O síndroma da classe turística

Um passageiro de um voo de longa duração fica sujeito a permanecer na posição sentada muitas horas seguidas e, frequentemente, nos assentos estreitos e pouco confortáveis da classe turística (ou económica). Estes longos períodos de imobilidade podem provocar a formação de coágulos sanguíneos nas veias localizadas profundamente (geralmente nas pernas), a qual também é designada por “trombose da veia profunda” (TVP), que pode, eventualmente, dar origem a uma embolia pulmonar.

Alguns especialistas afirmaram que a TVP pode afectar um em cada 20 passageiros aéreos de qualquer secção do avião, pois, segundo Patrick Kesteven, hematologista do Hospital Freeman de Newcastle, no Reino Unido, “é a imobilidade da posição sentada que provoca as lesões”.

A formação dos coágulos sanguíneos pode provocar apenas uma dor pungente e um inchaço, na parte inferior da perna, mas, no caso mais grave, parte do coágulo desloca-se através da corrente sanguínea até aos pulmões, podendo causar uma obstrução fatal.

Os passageiros que correm mais riscos são os que sofreram anteriormente de trombose ou que têm familiares próximos com historial da doença. A idade também é um factor importante – uma pessoa de 75 anos tem uma probabilidade 10 vezes superior de desenvolver TVP do que outra de 25 anos. Correm também maior risco as pessoas que padecem ou padeceram de cancro, as mulheres que tomam a pílula, as grávidas e as que tiveram bebé recentemente. Os passageiros saudáveis não se podem considerar imunes!...

Quem desenvolve TVP pode ter predisposição para ela, mas, esse estado é praticamente impossível de detectar. Os efeitos menores raramente produzem sintomas, mas as complicações mais graves, como as embolias pulmonares, podem surgir semanas depois do coágulo inicial.

John Scurr, cirurgião vascular do Hospital Middlesex, de Londres, conduziu uma investigação que lhe permitiu constatar que algumas pessoas desenvolveram coágulos após terem voado. Aquele investigador espera concluir até ao final do ano, um estudo baseado em 40 voluntários, com o objectivo de, não só verificar se existe alguma relação entre a TVP e o ambiente da cabine, como também descobrir que relação é essa.

A Comissária Europeia dos Transportes, Loyola de Palacios, numa carta dirigida à Associação das Companhias Aéreas Europeias, solicitou às companhias que alertem os passageiros para os riscos potenciais, quando fazem as reservas e, uma vez a bordo, sejam informados sobre o modo de reduzirem a probabilidade de desenvolverem TVP.

Respondendo a este pedido, algumas companhias introduziram folhetos de saúde que os passageiros recebem juntamente com o bilhete, assim como o lançamento de páginas especiais na Internet, e nas suas revistas de bordo, páginas de exercícios.

Apesar do voo mais longo da TAP (Lisboa –> S. Paulo) ter a duração de 9 horas (inferior aos vôos sem escala de 12 e 14 horas, para o Extremo Oriente e Costa Oeste dos EUA), a TAP tem, ultimamente, intensificado as recomendações aos passageiros, para minimizar os riscos de TVP, através de filmes emitidos e das revistas a bordo.

Algumas companhias aéreas estão a ser processadas por passageiros que sofreram TVP depois de permanecerem imóveis durante muitas horas em condições acanhadas em vôos de longo curso.

Um dispositivo contra o síndrome da classe turística vai ser instalado nalguns aviões de longo curso: trata-se de tapetes cheios de ar onde se podem fazer movimentos às articulações.

Quais as precauções que podem ajudar a prevenir a TVP em viagens mais longas?
Antes da partida:
· Tomar uma aspirina (as grávidas, entre outras pessoas, não devem fazê-lo)
· Quem tiver uma predisposição confirmada para a trombose deve receber uma injecção anticoagulante nas 24 horas anteriores (consultar um especialista ou o médico de família previamente)

Durante a viagem
· Beber muita água e evitar o álcool
· Procurar dispor de tanto espaço quanto possível para movimentar as pernas (guardando a bagagem de mão nos compartimentos adequados)
· Esticar e dobrar as pernas com frequência
· Encarar a utilização de meias elásticas (podem melhorar o fluxo sanguíneo nas veias)
· Levantar-se e passear nos corredores de vez em quando
· Praticar exercícios suaves no assento: levantar os calcanhares dez vezes, mantendo-os no ar durante alguns segundos; de seguida, fazer o mesmo com as pontas dos pés; por fim, levantar uma perna de cada vez e proceder a movimentos circulares com o tornozelo.

Fátima Sousa

Comentários

Mensagens populares deste blogue

As gravatas não deveriam ser usadas agora

A Biblioteca da Vila, conto de Miguel Beirão da Veiga

Os nomes das doenças [21]