Mensagens

A mostrar mensagens de 2009

A falta de Luz

Como dizia o sr. Maximiano (*), “isto da falta de luz dá um bocadinho de tristeza. Deixa a gente aborrecida, sem nada que fazer. Até a alegria se abalou”. É por tudo isto, que trabalhar na EDP é um constante desafio, qualquer que seja a intempérie que nos apareça. (*) Expresso, 31.Dez.09, pág 14

Natal de 2009

Imagem
A partir de um texto de Anselmo Borges e uma fotografia tirada em Guerreiros do Rio.

Mensagens sempre actuais

Imagem
Há mensagens que pela sua actualiade originalidade e qualidade merecem que eu partilhe com quem até aqui ler estes textos. Veio de um colega, grande amante das coisas boas da vida. Giotto Há muitos anos, muito antes do aparecimento da televisão, do computador e do telemóvel, deu-se um acontecimento, de tal forma mediático, que ainda hoje, rivaliza com as super-notícias que pululam pelos jornais das televisões, em horário nobre. Na altura, nem os jornais da terra (a existirem) fizeram eco do nascimento. Embora, nascer, na altura, é que fosse notícia. E não morrer, como acontece hoje. Hoje, como sabem, morre-se a toda a hora na televisão. Seja na estrada, num filme de suspense com o serial killer de serviço, numa disputa de vizinhos em Freixo-de-Espada-à-Cinta ou num atentado bombista em Jerusalém e no Iraque. Morre-se a toda a hora, numa sangria desatada, dando ao mundo parecenças com um vulgar matadouro. Os pais da criança, mudos de espanto, assistiram à chegada de anjos e arcanjos, p

Passaram 3 meses [9]

Imagem
Ao fim de 3 meses depois da Operação já me é possível fazer uma balanço do que foi acontecendo. O Coração trabalha bem, todos os dias, e o mais incrível, é que trabalha mesmo quando eu estou a dormir. Claro que não é nada de novo. Quase toda a gente vive assim. Mas, como eu tinha uma insuficiência cardíaca, é importante salientar que o trabalho de reparação foi bem feito. Os ossos é que demoram mais a ir ao sítio. Ainda sinto algumas limitações em certos movimentos, mas nada de especial. Já retomei a condução da viatura e em breve espero já voltar às caminhadas do Sempre a Descer. Continuo (para sempre) a fazer os controlos do sangue e a ajustar a medicação. Entretanto voltei ao Cardiologista para ir controlando a hipertensão e outras eventuais mazelas na máquina. Ou seja, vamos em frente, que não há tempo a perder ! Mas o que é novo, é talvez uma nova abordagem à vida e àquilo que ela tem de maravilhoso. E isso, e após uma longa passagem pelos hospitais e pela recuperação, é uma nova

A Recuperação [8]

E depois desta operação ao coração, foi cerca de um mês e meio para recuperar. Primeiro em Odivelas e depois em Santa Cruz, onde o mar, o Sol e o pouco calor, ajudaram muito nesta recuperação. Muitos medicamentos para tomar, e o regresso aos poucos à actividade fisíca. Uma das coisas a controlar, é a velocidade de coagulação do sangue. Para isso, preciso de fazer regularmente uma recolha de sangue, para medir o Tempo de Protrombina (TP). Existe um método de determinação internacional, designado por INR (Rácio Internacional Normalizado), que é o TP corrigido a padrões mundiais. O valor do INR é a informação chave, para se poder escolher a dose mais correcta do medicamento anticoagulante oral, Varfine, que terei de tomar até ao fim da vida . Existe um intervalo no qual os valores de INR terão de se manter para que a terapêutica tenha sucesso. O Varfine, nome comercial, tem como ingrediente activo a Varfarina sódica, um anticoagulante oral, que impede a acção da vitamina K, substância

Encontrar Deus [7]

Imagem
Passados 5 dias da operação, saí do Hospital e fui para casa recuperar. À saída encontrei Deus ! Calma, não penssem que lá pelo facto de ter feito uma recauchutagem ao coração já passei a ver e a falar como a Alexandra Solnado... Enquanto estive inconsciente, quando me iam mexendo no interior, não me lembro de ter tido qualquer contacto com o além. Mas de facto, à saída, simplesmente num Audi estacionado em cima do passeio, mesmo junto ao Hospital, cá estava este Deus. Fez-me lembrar os muitos jogadores de futebol, que à entrada no campo se benzem abundantemente, pedindo a protecção e ajuda divina para o jogo. Mas como são todos a fazer os mesmos gestos, eu imagino o que será a confusão no Céu para saber que equipa apoiar.

Uma questão de Sorte [6]

Uma das vantagens de estar numa enfermaria é poder ver televisão. E se os meus companheiros não estiverem muito interessados até posso escolher o canal. Foi o caso. E assim o melhor é escolher a RTP1, em vez das desgraças da TVI e os escândalos da SIC. Pelo menos é o que me ocorre dizer sobre os lomgos programas da manhã e das tardes. Por esses dias houve a tragédia da Praia Maria Luísa, em Albufeira. 5 portugueses, com falta de sorte, morreram devido à queda das arribas. O mais impressionante, naquele dia e seguintes, foi ver as entrevistas a outros portugueses que assumiam o mesmo tipo de riscos, noutras praias, colocando-se à sombra de outras arribas, argumentando que não fazia mal, que não iria acontecer outra vez, e que já lá tinham estado tanta vez e nunca tinha acontecido nada. Que o problema dos que morreram foi a falta de sorte. Uns dias mais tarde ouvi umas declarações do Pauleta a propósito da falta de sorte da selecção nacional por não marcar golos, que tanta falta fazem

Nos intermédios [5]

Antes de chegar a uma normal enfermaria, passei 1 dia nos Cuidados Intermédios. Aqui a aparelhagem de controle é menor, e estamos a meio caminho para a saída. Continuam os apitos, mas chegou a comida, e finalmente a hipótese de beber pequenas quantidades de água. Que alívio, finalmente! Afinal passou tão pouco tempo, mas a falta de líquidos, pela boca, é desesperante. Claro que estava a ser hidratado e alimentado de outras formas, com as minhas conhecidas garrafas de soro. Aqui já comecei a mexer-me um pouco, para ver se estava tudo no sítio. As visitas dos familiares são também mais demoradas e finalmente comecei a perder alguma tubagem. De qualquer modo a higiene e limpeza ainda é feita deitado na cama. Ou seja, tratado como um lorde. Só nessa altura pude ver que tinha uma costura (interior) com cerca de 18 cm, muito bem feitinha , na opinião de umas enfermeiras, entendidas no assunto.

O regresso [4]

Da minha passagem pela UCI recordo poucas coisas. É a vantagem de estar mais para lá do que para cá. Fiquei por lá 20 h. Tinham-me avisado de que iria acordar entubado. Mas afinal havia ainda um outro tubo, que entrava pelo nariz, uma sonda naso-gástrica, que creio que serve para retirar algum entulho que se possa acumular no estomâgo, e que possa estar a estorvar. Além deste ainda tinha dois tubos a drenar para um garrafão e que iam vazando as impurezas que se acumulam durante a operação, além da algália. Mas o mais difícil foi a sensação de sede. Só me vinham à minha pouca memória, na altura, os filmes Lawrence da Arábia e O Paciente Inglês e as suas imagens de pessoas no deserto a morrer de sede. E eu não podia beber água. Restou-me a fraca consolação de me molharem os lábios (gretados) com uma esponja molhada. O resto, à minha volta, eram os monitores que vão dando indicação do estado geral, tensão arterial, pulsação e outros dados que ajudam a equipa de vigilância, a manter tu

A Operação [3]

Acordei bem e preparado para o grande dia da operação [14 de Agosto de 2009]. A família veio fazer as despedidas e avaliar o meu estado de espírito. Ao sair do quarto, com aquela touca que se via na foto, já eu estava mais para lá e disse algumas coisas de que não me lembro nada. Parece que falei num isqueiro e na hipótese de em caso de não voltar, que fizessem a minha cremação e de colocar as cinzas nos sítios em que já tinha comunicado na véspera aos meus filhos. A operação durou cerca de 2 horas e meia. O pessoal da recepção foi extremamente simpático com a minha família. Disseram-lhes para irem dar uma volta e voltarem mais tarde, e se ainda não houvesse notícias que perguntassem. E vendo passar o tempo, foi feito um telefonema para o bloco e de lá veio a notícia de que tudo estava a correr bem, mas ainda demorava. É aquilo que as famílias aflitas querem saber. Mas o melhor foi quando, acabada a operação vieram os médicos intervenientes , Dr. Rui Rodrigues e Dra . Marta Marques, ex

A Preparação [2]

À tarde, depois de me ter sido atribuída uma cama, vesti a roupa de doente. Sim porque isto nos hospitais, tal como já referi nas histórias passadas no Hospital Pulido Valente, há fardas para tudo. E o doente é aquele que veste um pijama. A anestesista e mais tarde um médico vieram explicar-me o que se iria passar no dia da operação. Uma das curiosidades foi o de saber que iria acordar na Unidade de Cuidados Intensivos, e que não me preocupasse, porque teria um tubo enfiado pela goela abaixo, e que isso seria normal. Ou seja não tinha morrido e não estava na fase de ressuscitação . Tive também outras explicações sobre a prótese aórtica a colocar (e também da hipótese de se fazer apenas uma reparação na existente). Chegada a hora da janta, recebi alguns medicamentos para tomar, o Tantum Verde para desinfectar a boca e o Mycostatin para bochechar e engolir, e dois clistéres... Olá, então dão-me o jantar e querem que eu fique limpo logo a seguir? É assim o protocolo. Também tive de tomar

A história do Acto, vista pelo próprio [1]

Comecei pelos exames médicos. Obtida a papelada adequada fui para a recolha de sangue para análises. Retirei a senha e vi que tinha 17 números à minha frente. Ainda sem jornal para ler, fui ver como era o ambiente na sala de espera. E aqui entra em cena um Voluntário, que olha para a minha papelada, e vendo que eu sendo um pré-operatório, me diz o balcão onde me devia dirigir, porque era prioritário. O que foi bom, para quem não estava grávido nem suficientemente idoso para ter direito a tais mordomias. A importância que têm nos hospitais este tipo de voluntariado , especialmente quando as pessoas estão mais fragilizadas. Retirado o sangue era altura de ir comprar o jornal Público e finalmente tomar o pequeno almoço. Fui parar a um café, nas proximidades do mercado de Carnaxide onde fiz este pequeno intervalo para leitura e matabichar , antes de passar às próximas provas ( RX e ECG ). Qual não foi o meu espanto, ao verificar que ao fim de alguns minutos as mesas da esplanada à minha

Novo Boletim Clínico

A operação foi feita na manhã de 6ª feira, 14 de Agosto. Depois da passagem pela Unidade de Cuidados Intensivos, Cuidados intermédios e pela enfermaria, regressei a casa na 4ª feira, 19 de Agosto, onde me encontro em franca recuperação. Muito obrigado pelos incentivos, pelas orações e pelas preocupações manifestadas. Agora é ir andando devagarinho e em breve já devo estar operacional.

A saga parte II

Imagem
Resolveram desentubar o Tozé, o que na minha opinião, poderia ter demorado mais um bocadinho, porque até estava a saber bem não ouvir as boquinhas do costume. Para cúmulo, no dia a seguir, tiraram o resto dos tubos e agora ele anda por aí, tipo superherói com um coração novo, por isso aconselho precaução nas redondezas do hospital de Sta. Cruz. No entanto, ainda não consegue correr, por isso estamos relativamente seguros, desde que mantida uma distância de segurança. Por este motivo, vou de férias para os Açores, e tendo em conta isto desejo-vos sorte, principalmente tendo em conta que agora vai ser o Boita a actualizar este bloggue. "Isto está-se a compor!!!!" Boitinha
Imagem
Pra melhor, assim está bem está bem. Pois é, a recauchutagem foi um sucesso, ao que parece a válvula estava bastante estragada e tiveram mesmo que substituir por uma mecânica. Como sempre, o Tozé estava muito bem disposto como podem ver pela fotografia, exigiu até um fecho eclair daqueles todos xpto com duplo zip, jantes de ligas leve e luzes neon. A única coisa que o aboreceu foi não poder ter o portátil na UCI, para poder continuar as memórias, por isso a boitinha carregou esse peso nos seus ombros e aqui estou estoicamente a deixar a minha mensagem. A esta hora ele já estará a respirar sem ajuda e certamente vai me lixar a cabeça por não ter ilustrado este post com uma fotografia dantesca dele com tubos a entrarem por todo lado. Amanhã a saga vai continuar, obrigado a todos pelo apoio, miminhos, por estarem sempre por perto. Boitinha

A Operação

Imagem
A esta hora já devo ter um coração recauchutado. Não se vão ver os efeitos para já. Primeiro é preciso que todo o equipamento volte a trabalhar como deve ser. Depois os pontos que seguram o fecho éclair têm de fechar bem, para não entrar frio. Porque ter um coração frio não deve ser grande coisa. Depois ainda vou ter de aprender a viver com o motor novo e fazer a rodagem. Em breve teremos aqui mais notícias escritas pelos meus filhos.

Testes Médicos

Imagem
Deu entrada esta manhã, no Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, um jovem com quase 54 anos, para fazer os habituais testes médicos, com vista ao reforço da equipa para a próxima época. Para evitar a confusão habitual com a imprensa, entrou pela porta dos fundos,..., mas afinal por falta de coordenação do seu agente com os meios de comunicação social, não havia nenhuma equipa de reportagem da SIC (que até fica nas proximidades). Os testes incluiram a colheita de sangue para verificar a sua qualidade, um Rx ao tórax e ECG (electrocardiograma), e para já chega. À tarde e após um almoço no exterior (para prevenir as futuras refeições sem sal) dará entrada num quarto com vista para o rio e entrará em meditação para o grande encontro de amanhã, com o cirurgião, que irá fazer a substituição da válvula aórtica. Nem toda gente tem a sorte de aos 54 anos poder fazer este tipo de recauchutagem e assim ficar com uma máquina renovada.

Finalmente,,,, a operação

Finalmente vai começar a minha recauchutagem ao coração, estando a Operação marcada para 14 de Agosto.2009.

Redondo, Ruas Floridas

Imagem
Fomos ao Redondo ver as Ruas Floridas. Muito bonito, boa companhia e boa gastronomia. Atenção, o que está nas fotos é feito (tudo) em papel. Temos de regressar, lá para Novembro para uma caminhada na Serra d'Ossa.

Noites mágicas

Imagem
Já tivemos outras noites mágicas como esta que agora vivemos no Pavilhão Atlântico, com o Leonard Cohen. Actuou durante 3 horas, para um vasto público que enchia aquela sala espectacular. A frescura da sua juventude de 74 anos contagiou o pessoal presente. Recordo noites semelhantes com Compay Segundo e com B.B. King, no Coliseu de Lisboa.

Boletim Clínico

Imagem
Castelo Novo A Cirurgia Cardíaca do Hospital de Stª Cruz, em Carnaxide, está a fazer limpesas, enquanto o pessoal está de férias. Assim só devo ser operado lá para Setembro. Entretanto o melhor é ir trabalhando e descansando quando se possa, para começar a nova época em grande, e depois lá irei à recauchutagem. Castelo Novo

Os telemóveis e a nossa vida

Os telemóveis alteram muito os hábitos das pessoas. Quando tocam, a meio de reuniões, congressos, na missa, etc. e como o número de quem telefona aparece no visor, as pessoas não têm coragem de desligar, e então fazem aquela cena caricata: "O pá, desculpa mas agora não te posso atender, estou numa reunião... ligo-te mais tarde" . Que cena estúpida: não te posso atender, mas atendi. Gastaste uma chamada e não falamos de nada, e a operadora móvel agradece. Só se for para animar a economia. Ora não seria mais prático, como se fazia com os velhos telefones fixos, que quando não se podia atender, eles tocavam e se ninguém podia atender ligavam mais tarde. Esta ideia fixa de que a vida é feita ao ritmo do telefone e do imediato, não nos leva a lado nenhum. Ainda por cima como fica registado o número no nosso telemóvel, podemos sempre reatar o contacto, então em momento oportuno. Embirro quando me perguntam num telefonema para o telemóvel: "Desculpa, mas não sei se me podes at

À Espera

Um mês depois da saída do Hospital, estou à espera, sentado, da oportunidade de fazer uma recauchutagem ao coração, que na linguagem das lilicinhas se poderia chamar um lifting, que me deverá deixar seminovo, como se anuncia na venda de automóveis. Entretanto, no regresso a casa, alguns dos hábitos hospitalares ficaram. Continuo a acordar por volta das 6 h/6:30 h da manhã. Era a hora a que começavam as actividades de limpeza no hospital. Passei a fazer uns lanches a meio da manhã e da tarde, e antes de deitar lá vai uma bolachinha com leite. Se no final isto me der um melhor equilíbrio, e uma vida melhor, sempre posso dizer, como é hábito entre nós, "afinal ainda tive muita sorte com esta doença"!

Os tarifários e a nossa vida

Nos primeiros dias em casa recebi vários telefonemas de amigos, à noite, que queriam saber de mim. Achei estranho que as conversas se prolongassem por muitos minutos, com alguns mais de meia hora. Até parecia as conversas de mulheres... pormenor para aqui, mexeriquice para acolá, e a conversa nunca mais acabava. Uma das vezes até fiquei com o jantar a meio, que a bem dizer, não tive coragem de dizer àquele amigo que não era a hora mais oportuna. Mas foi bom receber estes telefonemas porque assim fiquei a par do que tinha acontecido à minha volta. Só então verifiquei que com os novos tarifários das operadores de telecomunicações, net e TV, e com a possibilidade de telefonemas sem tempo definido incluídas no pacote, não há oportunidade que o português não aproveite e assim vá de telefonar aos amigos. Eu imagino o que será o entupimento no tráfego de voz em algumas casas. É assim que estes tarifários das empresas privadas, mudam os hábitos dos portugueses. E andam alguns ainda a pensar q

O Trabalho e o Contribuinte [35]

Ao longo do mês em que estive hospitalizado aproveitei o tempo livre de tratamentos para me manter a par do que se passava no meu departamento e com a ajuda da rede móvel no PC portátil fui fazendo o que podia do meu trabalho. É que estando doente do coração não estava inválido. O meu trabalho na EDP hoje em dia, é quase todo feito a partir do computador no gabinete. Recebo os pedidos de trabalhos, faço os contactos por e-mail ou telefone e envio as respostas. Como não podia ir ao terreno, combinei reuniões para outros lá irem e quase tudo se vai mantendo activo. E faço isso com grande prazer. E assim é foi muito mais fácil aguentar o tempo de clausura no hospital. Achei muito estranho que algum@s amig@s me tivesses questionado sobre esta atitude, como se fosse completamente incompatível o estar doente (e de baixa) e continuar a trabalhar. Como se o trabalho fosse tão penoso para a vida, que até pudesse colocar em causa a minha saúde. É certo que estes reparos vieram de quem tem um con

No regresso [34]

Quando se regressa depois de um longo período de ausência, encontram-se as coisas um pouco diferentes. O Provedor de Justiça ainda não foi substituído… e ainda há pouco tempo se falava das virtudes de um Bloco Central para resolver os problemas do país. Muitos dos casos da justiça portuguesa, como o da Casa Pia ainda não teve nenhum desfecho. Bem preciso de uma válvula aórtica com uma longa validade para poder saber afinal o que se terá passado ali. O FCP ficou também com a Taça, restando aos outros, e em especial aos do Benfica um humor retemperador: Como é que se sabe, se um automóvel é antigo ? Se houver um autocolante no vidro traseiro a dizer "Benfica Campeão". Porque é que o Benfica vai passar a ser patrocinado pela BP ? Porque a BP dá pontos. Porque é que os benfiquistas vão começar a plantar batatas nas margens do relvado ? Para terem algo no final da época. O que é que o general Pinochet e o Benfica têm em comum ? Ambos juntam as pessoas em estádios de futebol para a

O Cateterismo e o sorriso EDP [33]

Imagem
Trabalhar na EDP tem normalmente implicações no relacionamento com as outras pessoas, tal como já referi num outro texto "O Roupão da EDP" . Também me aconteceu durante o Cateterismo. Na troca de impressões inicial com o médico, durante a preparação do corpo para a entrada do cateter, lá chegamos à EDP. Eu que estava ali para ver o estado das minhas canalizações na chegada do sangue ao coração, e sendo um doente com tensão alta, tive logo a oportunidade de saber de um problema de tensão baixa. A diferença é que a minha é a tensão arterial e a dele era a tensão eléctrica. Acabou por ser um diálogo interessante, e com muitos sorrisos, porque é a falar dos nossos problemas comuns que mais fácil nos entendemos e assim já tenho um caderno de encargos para tentar resolver depois do regresso ao trabalho. Ah, o Cateterismo... Quando era pequeno a minha mãe (Gracinda) obrigava-me a esfregar bem as orelhas por dentro e por fora para não haver lá sujidade suficiente para se plantarem lá

Boletim Clínico (actualização) [32]

Ao fim de 31 dias de cativeiro no Hospital Pulido Valente, os bichinhos estão mortos [acabou-se a Endocardite], a canalização estava desentupida [cateterismo] e agora vou para a recauchutagem. Mas como a insuficiência aórtica sendo grave, mas não tanto para ter de passar à frente dos que estão na bicha. Assim deverei ser operado no início de Julho.09 . Assim, faço um intervalo para ir trabalhar a partir de 2ª feira, para que não se sinta a minha ausência nos resultados da EDP.

Urgências [31]

Imagem
Desta vez, e já a partir de casa , aqui vai uma pequena reflexão que as notícias de hoje me sugeriram. Quando eu comecei a ter febre, há uns meses atrás, apareceu como grande preocupação a questão da eleição pelo Parlamento de um novo Provedor de Justiça , para substituir o, já farto de esperar, Nascimento Rodrigues. Depois de umas semanas de discussão sobre quem tinha a culpa, e devido à urgência na resolução do assunto, lá se marcaram para hoje, talvez uns dois ou três meses depois a respectiva eleição, após a apresentação de 4 candidaturas, porque os partidos não se entenderam sobre as culpas, e portanto cada um apresentou o seu. E hoje votaram, e claro cada um votou no seu candidato e portanto não ficou ninguém eleito. Mas como é urgente resolver o assunto, em vez de fazerem nova eleição entre os dois mais votados, meia hora depois, marcaram-se novas eleições para daqui a uma semana. Imagino o que teria sido da minha vida, se no momento em que os médicos verificaram que era urgen

Finalmente vão levá-lo para casa [b]

Este blog, tem sido muito interactivo, e aqui está este balanço da minha vida durante o último mês, feito por amigo: Tenho um amigo, boa pessoa, que há uns meses começou com problemas de saúde. Tosse, pernas fracas, pouca força e a família farta de o aturar doente e a trabalhar cada vez menos, instituciolalizou-o ou pelo menos alojou-o num hospital – aquele que antigamente era dos tuberculosos – onde ele permanece já vai para um mês. Entre a mulher e os filhos, passam por lá a vê-lo, embora houvesse quem tenha aproveitado para ir viajar e tudo. Podem pensar que, assim, ao menos sempre ia descansar. Engano! O chefe não perdoou as faltas ao trabalho e mandou montar na própria enfermaria tudo o que é necessário para continuar a labutar, agora até sem fins-de-semana de descanso. Com isso ele até adquiriu algum estatuto. Tem a sua encherga no meio da camarata onde está sentado a trabalhar, apreciado por todos os outros colegas que como ele para lá estão, vítimas dos maus corações. Mas final

A propósito de doenças [30]

Imagem
(dos jornais) "O Franco , tal como o Hitler , soube-se agora, só tinham um testículo. Perderam o outro em batalhas anteriores à sua chegada ao poder" Ou sejam, foram ditadores mas não tinham tomates .

O Pijama [29]

Aqui neste Hospital, tal como em qualquer outra empresa, existe uma hierarquia de fardas. Os médicos de bata branca e sempre com aquele colar tradicional, o estetoscópio (1) , e muitas canetas de diversas cores nos bolsos. Não sei bem o que acontece se um médico for apanhado sem estetoscópio. Terá de ir a algum curso reciclagem? De manhã aqui neste serviço os médico têm um corrupio de actividades. Falam com os doentes, se passaram bem a noite e pegando nos dossiês, analisam a evolução dos tratamentos, o registo das análises e das medidas de temperatura, pressão arterial e diurese, e fazem os reajustamentos da terapêutica. E no final têm de dar as explicações aos doentes que querem saber do seu futuro, e este assunto às vezes não é nada fácil. As futuras médicas (a Anatomia de Grey, que por aqui passa), já vestem da mesma forma que os médicos, mas são muito mais mulheres que homens. Depois de qualquer indicação do médico que as orienta, discutem em voz baixa nos corredores, para ver

Mais incentivos [28]

Outras mensagens recebidas por e-mail ou SMS: [Viena, Áustria] "Manda a bactéria pro caraças e põe-te porreiro pá". [Lobito, Angola] "Então pá, andas a imitar-me ?" [Arroios, Lisboa] "Tenho uma surpresa para ti mas não te posso dizer! até já." [Beja] "Com válvulas novas, ficas como um homem novo" [Alvalade, Lisboa] "Espero que pelo menos o programa de massagens seja ao teu gosto. Vai contando os detalhes … os que se puderes contar!!!" [Paris, Lisboa] "De facto parece-me muito perigoso tirar dentes ao coração e é natural que dê infecção. É quase tão bom como pôr um pace maker na boca para se mastigar com mais ritmo." “O senhor teve foi azar na época em que foi internado. Se tivesse sido pelo Natal talvez até tivesse palhaços ao vivo e não só na televisão como descreveu”. "E penteie-se. Um coração penteado tem um sopro muito mais bonito." "Espero que vá pramelhor, até um dia destes e cumprimentos à sua senhora que

Boletim Clínico [27]

Imagem
Depois de uma nova ETE (Ecografia Trans-Esofágica), efectuada na 3ª f, 19.Maio, verificou-se a morte da bicharada. Assim na 6ª feira, 22.Maio.09 devo ter alta. Vou até casa, passar o fim de semana, para retemperar forças e preparar a próxima época. Vou ver se apanho um bocadinho de Sol, porque depois destes dias de cativeiro, tenho a pele da cor do roupão da EDP. Volto cá ao Hospital na 2ª feira para fazer um cateterismo (1). E na próxima 4ª feira vou a uma consulta de cirurgia cardíaca no Hospital de Stª Cruz, para preparar a Operação do Coração. Alexander Fleming (1881-1955) Descobridor da Penicilina em 1929 Neste caso, o boletim clínico não acaba com os tradicionais: "mãe e filho encontram-se bem!" ou "prognóstico reservado". Mas pode ter uma palavra de ordem: abaixo a bicharada e vivam os antibióticos ! (1) Cateterismo é um exame cardiológico invasivo feito para diagnosticar ou corrigir problemas cardiovasculares, como por exemplo, a visualização de um estrei

Incentivos e oportunidades de melhoria [26]

Algumas das sugestões e incentivos recebidos por e-mail, com indicação do local da sua proveniência: [S. Miguel, Açores] "Aproveita aí o hotel à borla, olha que férias dessas em tempo de crise, não são muito frequentes." [Mindelo, Cabo Verde] "Gostas de arranjares avarias com nomes técnicos complexos. Isso se calhar pode reparar-se com uma caixa de junção unipolar termo-rectráctil(a) e um bocado de tempo". (a) jargão técnico só para entendidos em avarias em cabos eléctricos subterrâneos [Rabat, Marrocos] "Je prierai pour vous, que dieu fasse que vous alliez mieux et que votre coeur devienne plus fort et que votre vie future soit remplie de bonheur et de santé" [S. Pedro do Estoril] "Só mesmo tu estarias activamente do hospital a enviar acalmias aos amigos, explicações, guias de viagem nesta estação em que agora paraste. Sempre a subir, neste caso, graças a Deus! Que as maravilhas da vida em saúde te voltem a chegar em breve, e rezando por ti, cheios

A maré do meu amor ergueu-se tão alto [25]

Imagem
Alguns amigos têm colocado comentários no blog com incentivos e propostas de melhoria. Outros enviam-me por e-mail. Vou aqui partilhar algumas dessas contribuições: De um amigo que esteve recentemente no Irão: Escreve mil segredos luminosos nos muros da existência para que até um cego se possa aperceber da nossa presença e juntar-se ao que nos alegra. ....... A maré do meu amor ergueu-se tão alto que me perdi em ti. Fecha os teus olhos por um instante e talvez todos os teu medos e fantasias se calem de vez. Se isso acontecer Deus será uma criança nos teus braços e terás que amamentar toda a Criação Hafiz Poeta que viveu em Shiraz, Irão (1320-1389) Marrocos, 2003 [TGP]

Lixo tóxico [24]

Imagem
Como devíamos saber quando se passa os 50 as peças começam a falhar, e às vezes começam pelo motor. Nestes tempos de crise financeira, começo a convencer-me de que afinal o meu coração deve ter tido uma falha de regulação e deixou entrar o lixo tóxico e agora estou a pagar as favas. Abaixo a bicharada e vivam os antibióticos ! Cabo Espichel, 2008 [AJP]

Cá vamos andando [23]

Vou estando melhorzinho e a bicharada vai desaparecendo na próxima semana deve começar a ser preparada a operação para mudar a válvula aórtica (já pedi que me arranjem uma que tenha um prazo de validade até aos 97 anos, é que não faço a coisa por menos, porque ainda gostava de saber o desfecho do Processo da Casa Pia e ver o Benfica ganhar um campeonato)   e depois é voltar à vida normal, com um coração mais bonzinho.

Será que devo pressionar os médicos? [22]

Ao fim deste tempo no hospital, estou mais sensível às modas que a política portuguesa nos mostra nos meios de comunicação social. É que lá por fora o barulho do dia a dia vai esbatendo tudo isto. Quando aqui cheguei foram os empurrões do 1º de Maio . E foi um corrupio de aproveitamentos. Empurrem-no muito que nós precisamos de ganhar as eleições. Exigimos que nos peçam desculpa. Não pedimos desculpa, porque eles é que nos devem pedir desculpa. E no final talvez tenha sido a RTP Memória que ganhou com a exibição das cenas antigas de Mário Soares na Marinha Grande. Depois foram as guerras no Bairro da Bela Vista . É um caso social ou um caso de polícia? E aqui os partidos e certas personalidades vão dando palpites. São os pobres que roubam carros, arranjam armas automáticas e vão assaltar ourivesarias, multibancos e estações de gasolina ? Ou são gangues de jovens delinquentes que vivem apenas desta forma de vida, e que não têm relação com a gente honesta e talvez pobre que vive na vizin

Os nomes das doenças [21]

A partir de certa idade, é costume dizer-se que, quando não se sabe a origem de qualquer doença, que deve ser da PDI (para aqueles que não conhecem, significa a Puta Da Idade ). Mas hoje amigos transmitiram-me que também existem outras designações também muito apropriadas. DNA ou PVC. Explicando melhor: DNA = Data de Nascimento Antiga PVC = Porra da Velhice Chegando

Muito Obrigado a Tod@s [20]

Imagem
Ao fim destes 24 dias de cativeiro, acompanhado pela Endocardite, que agora deve estar quase a desaparecer, estou muito agradecido às muitas visitas que por aqui passaram (cerca de 70), aos outros amigos que têm telefonado e muitos e-mails , além dos 22 comentários que foram colocados neste blog. Assim tem sido mais fácil viver aqui. Aproveito para partilhar aqui, um dos comentários recebidos de uma amiga, que enviou um poema, "para despertar o arco-íris que pode estar escondido, por detrás do horizonte dos que resistem mais a adaptar-se ao ambiente hospitalar, pois não deve ser nada fácil..." Receita para fazer o azul Se quiseres fazer azul, pega num pedaço de céu e mete-o numa panela grande, que possas levar ao lume do horizonte; depois mexe o azul com um resto de vermelho da madrugada, até que ele se desfaça; despeja tudo num bacio bem limpo, para que nada reste das impurezas da tarde. Por fim, peneira um resto de ouro da areia do meio-dia, até que a cor pegue ao fundo d

O Hospital Pulido Valente e a Crise [19]

Imagem
Junto aos hospitais costuma estar um sinal de trânsito alertando para a proibição de buzinar nas suas proximidades. E isso é importante para o sossego dos doentes, já lhes bastando o barulho do movimento do tráfego rodoviário e aéreo durante todo o dia. No entanto, talvez para dinamizar a economia nestes tempos de crise, com mais investimento público, o Hospital Pulido Valente está a fazer obras no andar por debaixo daquele em que estou instalado, e é um barulho ensurdecedor durante todo o dia, com o partir de paredes e demais obras da grande remodelação que está a ser feita. Claro que só pode ser para benefício dos doentes e do funcionamento do Hospital. Assim o sinal que deveria estar à entrada do edifício onde estou a morar actualmente deveria ser este.

Nem toda a gente se dá bem por aqui [18]

A maioria dos meus vizinhos dá-se bem por aqui. Vamos conversando, trocando experiências e esperando ansiosamente pela alta hospitalar. Para aqueles que vão estando mais desanimados, lá lhes vamos dando algum alento, contando histórias, algumas anedotas e partilhando as nossas vidas. E são os médicos, as enfermeiras e auxiliares que vão tentando explicar calmamente o que se está a passar, para que servem os tratamentos, e explicando a situação de cada doente, para que em cada momento se saiba o que está previsto acontecer. Mas nem sempre é fácil. Há exames para fazer, há resultados que não batem certo. E o corpo humano não é bem um relógio em que cada uma das peças sabe exactamente o que tem de fazer. Às vezes, existem muitas interferências, e em especial nos mais idosos, os sintomas cruzam-se, e entram para aqui com um problema no coração mas já trazem atrás de si um manancial de doenças de difícil resolução. Enfim quando se está nesta clausura durante muito tempo, sonha-se com a dat

As coisas que se vêem daqui [17]

Imagem
Aqui deste meu posto de trabalho, em frente à TV, vou-me dando conta de certas coisas que passam ao longo do dia e que habitualmente não reparo. Ontem quando a RTP 1 iniciou a reportagem sobre a festa do FC Porto, pela conquista do campeonato, com as imagens do estádio do Dragão, apareceu em rodapé: FC PORTO TRETA CAMPEONATO Só alguns segundos depois devem ter dado conta do erro, e então lá emendaram para FC PORTO TETRA CAMPEONATO Deve ter sido algum coração (verde ou encarnado) empedernido e muito triste por tal ocorrência que achou por bem dar largas à sua revolta com aquela atitude. É certo que se foi usado o corrector ortográfico não se daria pela diferença. Mas eu não tenho dúvida de que foi um campeonato bem ganho e sem tretas. Mas assalta-me sempre uma dúvida. Como serão os campeonatos nacionais daqui a uns anos, quando o Pinto da Costa já não for o manda chuva. Tal como será a Madeira quando o Alberto João Jardim se reformar. Tenho impressão que isto anda tudo ligado.

O Estado da minha Crise [16]

Imagem
Hoje é o 18º dia de permanência aqui. Já recebi 117 doses de antibióticos, além de vários outros medicamentos para nivelar a tensão arterial, para proteger o estômago e para outras coisas que agora já nem me lembro para que servem. Segundo parece, através das análises de sangue que vão sendo efectuadas, a bicharada que me atacou o coração , está a morrer aos poucos. No resto do tempo vou-me mantendo ocupado com o trabalho da EDP, com a leitura de jornais, com visão de filmes e alguma TV. Alguns amigos têm-me questionado sobre o que é isso de estar no hospital (de baixa) e continuar a trabalhar. Tenho-lhes explicado que actualmente na minha empresa e na minha actividade em concreto, todo o trabalho passa necessariamente (e quase em exclusivo) pelo computador. Só ficam de fora as reuniões e as saídas em serviço para contactos. Assim aqui nos hospital recebo os trabalhos, faço os contactos por e-mail ou telefone e envio as respostas. Marco reuniões para outros lá irem e quase tudo se vai

As Aventuras de um Coração Atrapalhado / Pequenas histórias de vidas [15]

Aqui pela minha sala já passaram 8 doentes. Como já cá estou há 18 dias, já sou um veterano e vou vendo-os partir. Numa destas noites apareceu o sr. J , um jovem de 78 anos. Vinha do hospital de Elvas. Estava muito preocupado com o funcionamento deste hospital, que não conhecia. Não tinha cama e por isso começou por ficar numa maca na nossa sala. Aprendi com o meu avô João Boita e com o meu pai, que é fundamental para quebrar o gelo numa relação, saber desde logo de onde vem, onde nasceu, qual a sua actividade, etc. E logo nessa noite fiquei a saber que era do concelho de Marvão, mas da Portagem. Local que eu conheço bem por já lá ter acampado e tomado banho na pequena represa aí existente. E assim continuamos as nossas conversas partilhando conhecimentos. E isto é o que vai acontecendo com quase todos os que por aqui passam. Este convívio forçado pela doença leva-nos a conhecer estas pequenas histórias de vidas, que por acaso se cruzaram num serviço hospitalar.

A propósito das posições do Bispo de Viseu

O Bispo de Viseu fez recentemente algumas declarações sobre a utilização do preservativo no caso da SIDA, do divórcio, do enriquecimento ilícito, etc. que podem significar uma nova forma de ver estas questões e que merece um encorajamento. Foi isso que fizemos nesta mensagem que lhe foi enviada por e-mail: Sr Bispo D. Ilídio Leandro, Temos acompanhado com muito interesse as suas recentes declarações sobre a questão do preservativo, do divórcio, do enriquecimento ilícito, e demais posicionamentos que nos parecem muito interessantes. É certo que estas suas declarações, se vistas desgarradamente, levaram a pretensa divergência com a doutrina oficial. A nós, e sem o conhecer, estamos convencidos de que se trata de muito mais do que isso. Tal como disse a propósito da sua nomeação "sou um de entre vós e quero estar, viver e caminhar convosco e, para isto, quero contar com todos vós", e por isso aqui estamos a transmitir-lhe a nossa opinião. Nos últimos anos, e principalmente após

As Águias e a Cardiologia [14]

Imagem
Não sei o que se passa aqui. Vim para este hospital nas vésperas da derrota do Benfica com o Nacional da Madeira. E com essa derrota lá se perderam todas as esperanças de se alcançar o título (mas isso já é habitual), mas acima de tudo perdeu-se o campeonato da Segunda Circular para os lagartos. O que é certo é que a partir daí este serviço de Cardiologia está a rebentar pelas costuras. Todos os dias chegam mais pessoas com avarias no coração e já não há camas para todos. Os que sobram têm de ficar em macas. Eu não sou de intrigas, mas parece-me que é capaz de haver por aqui qualquer ligação. Assim vou ficar atento à porta, porque um dia destes ainda entra para cá o Rui Costa ou Quique Flores. E até desconfio que o serviço de Cardiologia do Hospital de S. João, no Porto, deve estar às moscas. Declaração de interesses: sou benfiquista desde os meus 6 anos. Antes disso era adepto do Belenenses, como o meu pai, mas as campanhas europeias do Benfica em 1961/62/63 e com cumplicidade do meu

Entretenimento [13]

O entretenimento aqui também tem as suas rotinas. Quando por volta das 7 h sou acordado para começar as doses de antibiótico, aproveito para me por a par das notícias, através da rádio. Alterno entre a TSF, Antena 1 e Rádio Clube. Tal como dizia um bispo americano que todas as manhãs consultava a CNN, para saber por quem devia rezar, eu fico a saber as desgraças que se passaram neste nosso mundo. Também fico preocupado com os inúmeros problemas no IC19 e na VCI. É certo que agora com a aproximação das eleições europeias, o que se ouve mais é a publicidade à Maizena, ao Photoshop e ao Bloco Central, e o ping-pong verbal, diário, entre alguns candidatos a protagonistas. Sabe-se pouco daquilo que se propõem fazer, mas isso agora não interessa nada . Após as lavagens e a inspecção médica, chega o jornal e então dedico-me a saber mais em pormenor o que se passa por aí. Passada a leitura, ligo o PC portátil e começa o meu horário de expediente com a EDP, aproveitando também para ver dos jorn

Exijo um pedido de desculpas [12]

Exijo um pedido de desculpas àquele meu dente que por se ter estragado irremediavelmente teve de ser arrancado. Exijo um pedido de desculpas a estas malditas bactérias que aproveitaram a porta aberta pelo dente e entraram por aqui dentro, e mesmo assim, em vez de se irem alojar, por exemplo nas unhas dos pés, foram logo escolher o motor principal, o coração . Pronto, se eles pedirem desculpa, eu perdoo-lhes, …, mas também não sei o que fazer a seguir. A não ser continuar este tratamento, e esperar que tudo se recomponha e depois com um coração recauchutado e com um prazo de validade alargado, continuar a minha vidinha. Qualquer semelhança entre este meu pedido de desculpas e as exigências que para aí andam do Vital Moreira, do Berlusconi, do Paulo Rangel, é apenas uma coincidência. Sim, porque eu não sou menos importante que eles.

Os hábitos e vícios [11]

Imagem
Ao longo da vida vamos ganhando alguns hábitos e até vícios que nos acompanham no dia a dia. Eu quando saio de casa, passo por um café à entrada do Metro em Odivelas, ou à saída em Lisboa, e bebo um café . É aquela ideia peregrina de que este estimulante é que nos aquece os motores para um dia de trabalho. Às vezes é a pausa a meio da manhã, para dois dedos de conversa com os colegas, acompanhado às vezes com uma saída para ir a um café . Depois do almoço com amigos e colegas de trabalho, é natural não prescindirmos de vinho, e rematamos a refeição com uma rodada de cafés . E se eu fumasse, seria também obrigado a uma série de paragens ao longo do dia para manter os níveis da nicotina. E depois ainda temos a lata de dizermo-nos uns aos outros que são estes ou outros hábitos que dão sentido à nossa vida, sem os quais não podemos viver (“eu não consigo funcionar como deve ser sem um cafezinho matinal”). Pois aqui no Hospital nada disto existe para os doentes e portanto não faz falta. Viv

A despropósito dum blogue [a]

Um amigo fez esta apreciação: Meu caro senhor. Por razões que eu nem sei se sei, fui parar ao seu blogue. Fiquei impressionado com algumas coisas que lá vêm e desculpe vir comentá-las. 1) De facto parece-me muito perigoso tirar dentes ao coração e é natural que dê infecção. É quase tão bom como pôr um pace maker na boca para se mastigar com mais ritmo. 2) O senhor Paulino teve muita sorte em o médico ter-lhe dado uma infecção cardíaca. Está bem instalado, num serviço todo limpinho, é bem alimenta… O meu vizinho, coitado, está num serviço mal cheiroso quase que não lhe dão de comer só porque o médico dele enfiou-lhe uma infecção gastro-intestinal e lá esta ele com a malta dos vómitos e diarreias. 3) O senhor teve foi azar na época em que foi internado. Se tivesse sido pelo Natal talvez até tivesse palhaços ao vivo e não só na televisão como descreveu. Não tenha medo de estar a ser muito caro pois eles é que gastam imenso dinheiro em viagens e jantares. Acho muito bem que se trate mas já

As rotinas [10]

A vida neste hospital está recheada de rotinas, que quase não me deixam tempo livre. Logo às 7 h recebo duas doses de antibiótico injectável. Depois vou tratar das minhas lavagens, fazer a barba, tomar duche e vestir roupinha lavada. Um pijama, que é a nossa farda oficial de doentes. Segue-se o pequeno-almoço, pão com manteiga sem sal, às vezes doce ou queijo, leite com café descafeínado, ou chá, e dois comprimidos para rebater. A meio da manhã, fruta ou iogurte. Às 13 h almoço, que invariavelmente tem sopa (sem sal), e um prato de carne que alterna com o peixe ao jantar. Quase sempre fruta, às vezes gelatina ou um bolo com pouco açúcar. Quase sempre como acompanhamento, mais um comprimido para tratar de qualquer coisa. Às 17 h o lanche, que é semelhante ao pequeno-almoço. Pelas 19 h chega o jantar. No meio destas sessões levo mais umas doses de antibiótico (penicilina e gentamicina), porque a bicharada não é fácil de exterminar. No meio disto tudo vamos vendo alguma TV, com excepção d

As minhas vistas [9]

Imagem
Nesta minha presença no Hospital, estou confinado a uma sala com 3 camas, a um corredor com 50 metros e à casa de banho colectiva. As vistas que tenho do quarto são para o grande descampado onde estava o antigo estádio José Alvalade, e que actualmente o Sporting espera poder utilizar para a construção de habitação. Com a crise actual, está visto que vai ficar ainda muito mais tempo como descampado. O novo estádio fica escondido atrás da grande árvore que tenho em frente. A partir da casa de banho e se abrir as janelas, tenho a vista do jardim central deste hospital.

As 4 garrafas da vida [8]

Imagem
Aqui estão as 4 garrafas da vida Neste momento sou utilizador intensivo da última, para dar cabo da minha Endocardite, através de antibióticos injectáveis (penicilina e gentamicina).

O meu vizinho [7]

Tenho um vizinho que já chegou aos 88 anos. Vivia num lar e teve um enfarte. Quando cheguei aqui vi que era muito difícil fazê-lo comer qualquer coisa ou mesmo dar-lhe os medicamentos. Rejeitava quase tudo. Por muito que se esforçassem as auxiliares, conversando com ele, falando-lhe da família, não havia quase nenhuma colaboração. E a comida pare ele vem sempre passada, em papa, tal como a sopa para facilitar. No dia seguinte à hora do jantar, veio vê-lo uma neta. E foi uma alegria. Ela conversou com ele, sobre o que ele mais gostava na comida, sobre as coisas que ele fazia antes de estar doente, etc. E ele lá foi comendo quase tudo. E a partir daí, quer com neta, com o filho ou com a nora, tem vindo a comer razoavelmente, e até tem colaborado melhor com as auxiliares quando não pode estar alguém da família. Não há dúvida que aquilo que nos faz sentir melhor com a vida é um miminho , vindo de alguém da família ou de alguém que nos seja querido. Só espero que quando a minha vez chegar,

Desenrascanço [6]

Há pouco tempo foi notícia o facto de um qualquer instituto inglês andar à procura de palavras e conceitos que faziam falta na língua inglesa. E a primeira das palavras que acharam que seria imprescindível, era a da típica atitude portuguesa do desenrascanço . Até era dito que este mesmo conceito era ensinado nas universidades portuguesas. Efectivamente damo-nos bem com esta atitude, que serve muitas vezes de escapatória para a nossa típica falta de planeamento e programação adequada. Mas vamos vivendo assim, e nalguns países esta característica é bem apreciada nos portugueses. Esta madrugada, houve por aqui algum alvoroço. De um momento para o outro apareceram três novos doentes enviados pela urgência do Hospital de Santa Maria. E foi a mobilização geral, médicos, enfermeiras, auxiliares, para fazer análises e medidas disto e daquilo e para a colocação adequada destes novos doentes. Mas não havia vagas nos quartos. Procuraram-se outras camas noutros serviços e dali a pouco, os 3 foram

A fase da Anatomia de Grey [5]

Imagem
Um destes dias fui assaltado por uma grande equipa de estudantes de medicina, que até parecia o pessoal da Anatomia de Grey . Eram seis miúdas e apenas um miúdo. Assim se vê quem é que estuda mais e consegue entrar para Medicina. Os gajos perdem muito tempo com as festas e com os copos e são facilmente ultrapassados pelas gajas, na difícil corrida para Medicina. Pediram-me, muito delicadamente para eu me despir da cintura para cima, e tendo o cuidado de aquecer o estetoscópio, aqui andaram a apalpar, à procura do som do sopro do meu coração . Não foi fácil. Pelas conversas entre eles percebi que não era evidente a audição de um coração atrapalhado como o meu. Mas é assim que se vai começando a conhecer estas patologias. No final perguntei-lhes se eles se pareciam de alguma forma com os actores da Anatomia de Grey , mas uma delas disse-me logo que a realidade é muito diferente da ficção televisiva e que eles não eram tão promíscuos...

O Roupão da EDP [4]

Imagem
Em Novembro passado, participei num dos grandes encontros de colaboradores da EDP, no Pavilhão Atlântico. O pessoal chama a este encontro, o Encontrão . Naquele em que participei estavam cerca de 3 000 trabalhadores. No final como é habitual houve uma entrega de prendas e desta vez, coube-nos um roupão branco, em turco, com o símbolo do sorriso da EDP . O roupão lá ficou guardado em casa, mas sem grande utilidade. Pela manhã, depois do duche o que interessa é uma secagem rápida e vestir a farda do trabalho, fato, camisinha, gravata, etc. e tomar o pequeno-almoço e ala para o Metro para ir para o Marquês. A bem dizer nunca tinha utilizado o roupão para ficar refastelado em casa a secar de um qualquer mergulho na banheira. Mas aqui no Hospital cada um dos intervenientes tem a sua própria farda. Os doentes vestem pijama e por cima, às vezes, um roupão ou robe. E é aqui que entra o roupão da EDP. E o jeito que ele me tem feito. O facto de eu ter usado o roupão com o símbolo da EDP, além de

O Internamento [3]

E aqui estou eu, na sala 4, no meio de dois jovens de 88 e 75 anos, que aqui estão também para fazer reparações à máquina. Trata-se de um quarto para 3, com vista para as traseiras do Estádio de Alvalade, o que me vai permitir acompanhar as futuras vitórias em casa dos leões. Temos um lavatório no quarto e casa de banho fica ao fim do corredor. Só eu é que mexo bem, porque os outros dois colegas não se podem movimentar sem ajuda. O que quer dizer que tenho vantagens na ida para a casa de banho, nem é preciso correr Temos uma TV LCD, mas com uma imagem um bocado difusa. Todos os dias, e qualquer hora do dia, recebo uma dose de comprimidos, e os antibióticos injectáveis (penicilina e gentomicina). No 2º dia, fui picado 4 vezes, 2 em cada braço, para tirar sangue, e agora tenho uma estrutura de entrada permanente para se poder injectar os antibióticos, o que já é uma boa ajuda. É um bioneter (cateter endovenoso periférico). É que eu com as minhas gorduras vou escondendo as veias o que tor