A propósito das posições do Bispo de Viseu

O Bispo de Viseu fez recentemente algumas declarações sobre a utilização do preservativo no caso da SIDA, do divórcio, do enriquecimento ilícito, etc. que podem significar uma nova forma de ver estas questões e que merece um encorajamento.
Foi isso que fizemos nesta mensagem que lhe foi enviada por e-mail:

Sr Bispo
D. Ilídio Leandro,

Temos acompanhado com muito interesse as suas recentes declarações sobre a questão do preservativo, do divórcio, do enriquecimento ilícito, e demais posicionamentos que nos parecem muito interessantes. É certo que estas suas declarações, se vistas desgarradamente, levaram a pretensa divergência com a doutrina oficial.
A nós, e sem o conhecer, estamos convencidos de que se trata de muito mais do que isso.
Tal como disse a propósito da sua nomeação "sou um de entre vós e quero estar, viver e caminhar convosco e, para isto, quero contar com todos vós", e por isso aqui estamos a transmitir-lhe a nossa opinião.
Nos últimos anos, e principalmente após o Concílio Vaticano II, se é certo que se avançou em muitos campos, nomeadamente nas questões sociais, no que diz respeito à família, à procriação, ao prazer de viver, a Igreja oficial tem-se posto à margem e não soube acompanhar as alegrias e tristezas dos filhos de Deus. Não tem sido sensível a uma série de questões, nomeadamente no que diz respeito ao planeamento familiar, à utilização de meios contraceptivos "artificiais" e à garantia de que um casamento é também uma fonte de prazer de viver.
Que sentido faz hoje condenar meios "artificiais" no planeamento familiar, quando cada vez mais são os muitos meios artificiais que nos mantém vivos mais tempo? Vejam-se os diferentes tipos de próteses, pacemakers, válvulas, transplante de órgãos, etc. que a ciência em boa hora tem desenvolvido, assim ajudando a debelar muitas das nossas enfermidades.
E no que diz respeito ao divórcio, quando após muitas tentativas feitas, o amor acabou mesmo. A violência doméstica que tantas mortes tem causado, será também uma das situações a encarar para esta discussão. O tempo em que os casais se mantinham juntos e casados, sem qualquer discussão, era quase sempre uma forma de submissão da mulher que abdicava de tudo, para que as aparências se mantivessem.
O acolhimento na Igreja dos que se divorciam é feito por alguns grupos, mas infelizmente muito dificilmente aceite pela instituição oficial.
Há muitos outros assuntos de que lhe poderíamos falar. Alguns exemplos: a falta de aceitação de um papel mais determinante das mulheres na Igreja. A Igreja é maioritariamente feminina, mas é dirigida em absoluto pelos homens. A sociedade em que vivemos já não é assim, apesar de muitas discriminações ainda existentes.
Há ainda a obrigatoriedade do celibato dos padres e outras concepções baseadas apenas na tradição e não no que foi deixado por Jesus Cristo aos Apóstolos.
É muito importante que apareçam bispos que sejam transmissores de muitas destas questões, que vão preocupando grupos dentro da Igreja e que não têm tido eco nas instâncias decisivas.
A nosso ver, esta nossa Igreja precisa de dar passos decisivos na discussão e resolução deste tipo de problemas e deixar-se de preocupar em fazer regressar ao interior da Igreja aqueles, tais como os seguidores de Lefèvre, que dela não querem fazer parte.
Assim, vimos apresentar-lhe os nossos cumprimentos e um forte incentivo para que continue a transmitir para dentro e fora da Igreja estas preocupações que também são as nossas, e que, embora reflictam apenas a nossa posição individual, de antigos militantes da JUC e membros actuais do Metanoia e do Centro de Reflexão Cristã, sabemos que são partilhadas por muitos outros crentes, muitos deles empenhados em renovar a Igreja e em dar testemunho de Jesus no nosso mundo.
Com os nossos cumprimentos,
António José Boita Paulino e Ana Maria Nunes Gonçalves

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