Finalmente vão levá-lo para casa [b]
Este blog, tem sido muito interactivo, e aqui está este balanço da minha vida durante o último mês, feito por amigo:
Tenho um amigo, boa pessoa, que há uns meses começou com problemas de saúde. Tosse, pernas fracas, pouca força e a família farta de o aturar doente e a trabalhar cada vez menos, instituciolalizou-o ou pelo menos alojou-o num hospital – aquele que antigamente era dos tuberculosos – onde ele permanece já vai para um mês.
Entre a mulher e os filhos, passam por lá a vê-lo, embora houvesse quem tenha aproveitado para ir viajar e tudo.
Podem pensar que, assim, ao menos sempre ia descansar. Engano! O chefe não perdoou as faltas ao trabalho e mandou montar na própria enfermaria tudo o que é necessário para continuar a labutar, agora até sem fins-de-semana de descanso. Com isso ele até adquiriu algum estatuto. Tem a sua encherga no meio da camarata onde está sentado a trabalhar, apreciado por todos os outros colegas que como ele para lá estão, vítimas dos maus corações.
Mas finalmente o hospital, que já o considera catita e apto a viver sem pijama, conseguiu negociar com a família e ele vai voltar para casa.
Vamos ver como se vai readaptar à casa pois vai voltar a ter de lavar a loiça, cozinhar, participar na lida da casa, em vez de esperar calmamente que lhe tragam a almocinho, a pastilhinha, o sorozinho, o sorozinho, a pastilhinha e o jantarinho.
À cautela vai só de fim-de-semana, com a desculpa de voltar na segunda feira para fazer um exame, mas todos sabemos que se não se der bem em casa pede de novo asilo no hospício.
É de esperar que corra bem pois ele até se adapta a tudo. Lembro-me por exemplo que uma vez fomos de férias para uma terra na outra banda do mar e queríamos beber café, mas lá não havia. Com esse nome só tinham uns baldes de água escura (mas não muito escura) e todos sofríamos, menos ele que bebia daquele cafú satisfeito e dizia “em Roma sê romano”, o que nos fazia lembrar ainda mais dos bons expressos de Roma.
E o que vai ser agora de mim que, quando não tinha mais nada para fazer, passava pelo hospital para dar uns dedos de conversa? Lá terei que ir para a Alameda ou a Estrela jogar às cartas ou, como felizmente veio a bom tempo, posso ir passear para a margem do Tejo e até talvez compre uma cana de pesca.
Claro que, se confrontarmos a família com estes factos, vão dizer que é mentira, que não foi nada assim, vão virar o bico ao prego e dizer que é tudo ao contrário, mas nós estamos carecas – e eu cada vez mais – de saber como as pessoas são.
Bom regresso a casa, um abraço
José Beirão
Tenho um amigo, boa pessoa, que há uns meses começou com problemas de saúde. Tosse, pernas fracas, pouca força e a família farta de o aturar doente e a trabalhar cada vez menos, instituciolalizou-o ou pelo menos alojou-o num hospital – aquele que antigamente era dos tuberculosos – onde ele permanece já vai para um mês.
Entre a mulher e os filhos, passam por lá a vê-lo, embora houvesse quem tenha aproveitado para ir viajar e tudo.
Podem pensar que, assim, ao menos sempre ia descansar. Engano! O chefe não perdoou as faltas ao trabalho e mandou montar na própria enfermaria tudo o que é necessário para continuar a labutar, agora até sem fins-de-semana de descanso. Com isso ele até adquiriu algum estatuto. Tem a sua encherga no meio da camarata onde está sentado a trabalhar, apreciado por todos os outros colegas que como ele para lá estão, vítimas dos maus corações.
Mas finalmente o hospital, que já o considera catita e apto a viver sem pijama, conseguiu negociar com a família e ele vai voltar para casa.
Vamos ver como se vai readaptar à casa pois vai voltar a ter de lavar a loiça, cozinhar, participar na lida da casa, em vez de esperar calmamente que lhe tragam a almocinho, a pastilhinha, o sorozinho, o sorozinho, a pastilhinha e o jantarinho.
À cautela vai só de fim-de-semana, com a desculpa de voltar na segunda feira para fazer um exame, mas todos sabemos que se não se der bem em casa pede de novo asilo no hospício.
É de esperar que corra bem pois ele até se adapta a tudo. Lembro-me por exemplo que uma vez fomos de férias para uma terra na outra banda do mar e queríamos beber café, mas lá não havia. Com esse nome só tinham uns baldes de água escura (mas não muito escura) e todos sofríamos, menos ele que bebia daquele cafú satisfeito e dizia “em Roma sê romano”, o que nos fazia lembrar ainda mais dos bons expressos de Roma.
E o que vai ser agora de mim que, quando não tinha mais nada para fazer, passava pelo hospital para dar uns dedos de conversa? Lá terei que ir para a Alameda ou a Estrela jogar às cartas ou, como felizmente veio a bom tempo, posso ir passear para a margem do Tejo e até talvez compre uma cana de pesca.
Claro que, se confrontarmos a família com estes factos, vão dizer que é mentira, que não foi nada assim, vão virar o bico ao prego e dizer que é tudo ao contrário, mas nós estamos carecas – e eu cada vez mais – de saber como as pessoas são.
Bom regresso a casa, um abraço
José Beirão
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