A morte raspou à porta

A morte não nos bate à porta. Então seria impossível escrever este texto.
Mas às vezes a morte raspa a nossa porta, leva algum dos nossos familiares e amigos. Ontem foi a vez da mãe de um amigo meu.
Juntamos outros amigos e junto à igreja onde o corpo foi depositado, falamos dos vivos, soubemos uns dos outros e dos nossos filhos. Celebramos a vida de quem partiu e tentamos assim consolar o nosso amigo.
É a vida, dizemos muitas das vezes nestas situações, em que ficamos quase sem saber o que dizer.
Aqueles que já passaram por estas situações, como eu, que já vi partir os meus pais para a sua viagem definitiva, sabemos bem o que significa ficar perdendo de vez as referências físicas ao nosso passado. Mas também sabemos que a memória dos nossos pais, os valores e as histórias que nos foram transmitidas, vão sendo sucessivamente lembradas.
Acho que passei a fazer isso mais intensamente. Vou citando ao longo dos dias e para as mais variadas situações, as frases e as memórias que tenho dos meus pais. É a forma de os manter vivos e de celebrar com eles a vida que tiveram e que me transmitiram.
António José Paulino

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