Pedidos de Sangue

Têm-me chegado à caixa de correio vários pedidos de dádiva de sangue.

Essa é talvez das maiores dádivas que podemos fazer em prol dos que dele venham a necessitar nas mais variadas situações da vida ou no limiar da morte. É essa a razão que me leva a ser dadora há alguns anos, embora nem sempre seja muito fácil os técnicos encontrarem as minhas veias. No entanto, apesar de por vezes ser uma verdadeira odisseia, ainda não desisti, movida pela convicção de que alguém, no anonimato dos hospitais, poderá um dia vir a usufruir daqueles poucos centímetros cúbicos de vida em estado líquido.

Por outro lado, o anonimato tanto do dador como do receptor é algo que me atrai e convida a partilhar com os demais um pouco de saúde e vida, certa de não conhecer o rosto nem ser por isso alvo de agradecimentos, dado que considero tal gesto tão natural quanto gratuito.
Eis, pois, algumas razões pelas quais não só continuo a insistir em dar sangue sempre que a minha compleição física e estado de saúde o permitem, como a incentivar outros a que arrisquem essa mesma partilha nos serviços de sangue dos hospitais.
Porém, o mesmo incentivo é acompanhado de alguma estranheza e cepticismo quando os pedidos de sangue são feitos por um mail que passa sucessivamente, desconhecendo-se a sua primeira fonte.

Em geral, hoje não se morre por falta de sangue nos hospitais, uma vez que, em caso de escassez, os hospitais contactam o Instituto Nacional de Sangue, segundo tive oportunidade de confirmar recentemente numa unidade hospitalar, à qual me dirigi precisamente para cumprir esse meu dever de cidadã.

O meu cepticismo foi ainda incrementado quando, na sequência de um mail destes (solicitando um tipo de sangue dito raro para determinada pessoa), pretendi contactar quem o enviara, a fim de obter mais indicações sobre o doente, fazendo-o beneficiar da minha dádiva, embora de um tipo de sangue diferente. Estranhamente, o que aconteceu foi que o autor do dito mail se perdeu numa cadeia, na qual ninguém confessou conhecer directamente o doente ou amigo ou familiar que fizera o pedido. Cada pessoa contactada alegava ter recebido o mail de outra, nunca se comprometendo na busca do suposto doente, o que me pareceu no mínimo estranho numa situação de suposto risco de vida...

Ora, este acontecimento de assumida indiferença por quem passara o mail reafirmou a minha desconfiança face a estes pedidos anónimos.

Nessa sequência, gostaria sim de incentivar a dádiva de sangue nos hospitais mas lembrando o seguinte a possíveis dadores:

1. É aos hospitais que nos devemos dirigir para dar sangue.
2. Um doente em risco beneficia de qualquer dádiva, porque o que interessa aos hospitais é a reposição de sangue, seja de que tipo for, embora, obviamente, haja tipos de sangue mais escassos que outros.
3. Lembre-se de dar sangue mesmo que não conheça ninguém que dele usufrua: alguém precisará dele.
4. Dar sangue não custa nada e são os médicos assistentes que diagnosticam, na consulta prévia, quem eventualmente não poderá fazê-lo.
5. Se é saudável e se encontra em idade favorável, dirija-se a uma unidade hospitalar e dê sangue: para além dos mail, verdadeiros ou falsos, há sempre alguém que precisa da sua generosidade.
6. Não passe mail. Aja: dê sangue. Seja a quem for que dele necessite.
7. Lembre-se: DAR SANGUE É DAR VIDA.
Carla Crespo

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