O Pijama [29]

Aqui neste Hospital, tal como em qualquer outra empresa, existe uma hierarquia de fardas.

Os médicos de bata branca e sempre com aquele colar tradicional, o estetoscópio (1), e muitas canetas de diversas cores nos bolsos.
Não sei bem o que acontece se um médico for apanhado sem estetoscópio. Terá de ir a algum curso reciclagem?
De manhã aqui neste serviço os médico têm um corrupio de actividades. Falam com os doentes, se passaram bem a noite e pegando nos dossiês, analisam a evolução dos tratamentos, o registo das análises e das medidas de temperatura, pressão arterial e diurese, e fazem os reajustamentos da terapêutica.
E no final têm de dar as explicações aos doentes que querem saber do seu futuro, e este assunto às vezes não é nada fácil.

As futuras médicas (a Anatomia de Grey, que por aqui passa), já vestem da mesma forma que os médicos, mas são muito mais mulheres que homens. Depois de qualquer indicação do médico que as orienta, discutem em voz baixa nos corredores, para ver se apreenderam tudo bem.

Com esta fornada de médicas, num futuro muito próximo, vai ser um regalo para os homens irem parar ao hospital. É que vão ter uma população esmagadora de mulheres para lhes tratarem da saúde.

As enfermeiras, de bata branca, sempre solícitas, mudando de luvas a toda a hora, para aplicarem os curativos e pensos e procederem à administração dos medicamentos, e dos diversos produtos injectáveis. São elas que vigiando e avaliando em permanência os doentes, com a colaboração das auxiliares, transmitem de turno em turno, vão mantendo o comboio em andamento.
Aqui neste serviço as enfermeiras são muito novas, numa média inferior a 30 anos. Disseram-me que é uma situação generalizada noutros serviços e hospitais, e que se deve ao facto de nos últimos anos, devido às muitas alterações nas carreiras da função pública e na gestão dos hospitais, as mais antigas se terem pré-reformado ou mesmo reformado.
Esta juventude e eventual menor experiência profissional são compensadas pela maior disponibilidade e atenção aos doentes, fruto também da diferente formação que tiveram.

As auxiliares, de uniforme azul celeste, sempre disponíveis para as diversas ajudas pedidas pelas enfermeiras e médicos, e para ocorrerem aos doentes, que querem sair da cama para ir para o cadeirão, que querem subir ou baixar a cabeceira da cama, para dar banho ou fazer a barba aos que não o podem fazer sozinhas, e são também elas que nos distribuem a comida e nos fazem a cama e fazem a limpeza geral do serviço.
De resto aqui a alvorada matinal, por volta das 7 h, é feita pelas auxiliares com o barulho das tampas dos caixotes, quando andam a recolher o lixo de todas as salas.

Às vezes, principalmente à noite, andam todos e todas vestidas de verde, e às vezes não se sabe quem é quem (à parte o estetoscópio).

E finalmente os doentes, de pijama, camisa de dormir e robe, de diversas cores.
É isto que nos distingue dos outros habitantes desta pequena comunidade. De tal forma isto é importante que um dia destes, um dos meus companheiros de sala foi informado pelo médico, logo pela manhã que iria ter alta a seguir ao almoço. E ele não foi de modas, pegou logo na roupa civil e foi à casa de banho mudar-se, e apareceu na sala fardado de não-doente.
Nem queiram saber a confusão que isso causou. Levou uma série de raspanetes de todos, porque os doentes só deixam de ser oficialmente doentes, quando os papéis estão todos assinados e as terapêuticas preparadas, ou seja tudo nos conformes.

Como se vê por esta descrição de cores, o Benfica nem aqui tem qualquer hipótese.
______
(1) - O dr. Rui Cordeiro esclareceu-me mais tarde que o estetoscópio é fundamental para a actividade dos cardiologistas, e que é muito difícil colocá-lo no bolso, onde já andam muitas outras coisas.

Comentários

a.sáxeo disse…
Com que então são as mulheres que no futuro nos vão tratar da saúde!!!
(Mas quem, senão elas, é que nos tem tratado dela?)
Muita sorte tens tu, com esse teu descaramento disfarçado de Grey ou lá o que lhe chamas e mais esses relatos das visitas matinais com aroma de brejeirice, que não te leia a Anita o blogue.
Senão tratava-te ela da saúde...
Um abraço

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